sexta-feira, 20 de maio de 2011

1ª HISTÓRIA

A HISTÓRIA DE ZABÉ LULU

Este é um conto narrado pela minha avó, uma mulher sábia, que propõe o vanguardismo de uma adaptação folclórica da cultura brasileira a um conto de origem francesa: lobisomem ou lobo mau?

Cap. I
Numa cidade de interior vive uma moça casadoira de codinome Zabé (Izabel). Ela, como toda moça da sua idade, só pensa em casar.
A Zabé tem uma cachorrinha que cuida da casa e da própria dona. Chama-se Lulu.
A história da Lulu é muito interessante: De acordo com a Zabé, essa cachorrinha lhe foi dada por Nossa Senhora, para protegê-la, visto que era ela mesma, sua afilhada de batismo.
Foi assim, que numa festa de largo, a moça conheceu um rapaz bem apessoado. Ela quis conversar com ele pessoalmente. Queria ter uma certa privacidade. O melhor lugar para isto seria sua casa.
Então, ficou acertado que à noite, depois do trabalho, ele iria até a casa da Zabé, fazer-lhe uma visita.
A moça sonhava com isso. Toda noite se preparava com seu mais belo vestido, batom de carmim e cheiro de alfazema.
Foi assim que começaram as visitas...
Cap. II
Numa noite estava Zabé a esperar pelo moço, e enfim, ele chegou.
Ela ouviu-lhe a voz que assim dizia:
 – Zabé Lulu, gaiu gaiu, abre a porta que bem-bem é vai, que bem-bem é vai, que bem-bem é vai...
Entretanto, a cachorrinha lá no quintal, cumprindo seu papel de guardiã, respondeu de pronto:  – Não entra não, não entra não, que ela está dormindo, que ela está dormindo...
Daí, Bem bem se foi porque tinha medo de cachorros.
Quando a Zabé soube do acontecido tratou de dar fim à cachorrinha, e o dar fim consistiu na morte da Lulu.
Cap. III
A madrinha de Zabé, entendendo os motivos de ato, tão atroz, fez com que a cachorrinha, mesmo morta, voltasse a defender a moça.
Voltando à noite, o Bem-bem, pretendente da Zabé, insistiu na mesma apresentação da noite anterior:
– Zabé Lulu, gaiu gaiu, abre a porta que bem-bem é vai, que bem-bem é vai, que bem-bem é vai...
E, de novo a cachorrinha:
 – Não entra não, não entra não, que ela está dormindo, que ela está dormindo...
Mais uma vez, frustrado, o moço foi-se embora.
E, quando a moça percebeu que a cachorrinha, mesmo morta, impediu a entrada de quem ela queria, enfurecida, tratou de queimar a cachorrinha, que desta vez, ficou reduzida a cinzas.
Cap. IV
Caiu a noite, e como era de costume Bem-bem apareceu. Postou-se à porta de Zabé e repetiu a mesma senha:
– Zabé Lulu, gaiu gaiu, abre a porta que bem-bem é vai, que bem-bem é vai, que bem-bem é vai...
As cinzas da cachorrinha, com a autoridade de Nossa Senhora, mesmo baixinho, respondeu:
– Não entra não, não entra não, que ela está dormindo, que ela está dormindo...
A moça, pela manhã, estava furiosa, tratou de limpar as cinzas da cachorrinha jogando tudo no rio. A correnteza levou tudo embora, nem um pouco de cinza da cachorrinha ficou.
Cap. V
E foi assim que à noite, Bem-bem chegou à casa de Zabé, repetindo a mesma lenga-lenga:
 – Zabé Lulu, gaiu gaiu, abre a porta que bem-bem é vai, que bem-bem é vai, que bem-bem é vai...
Dessa vez, a moça, que estava deitada em sua cama, com muito entusiasmo, respondeu ao rapaz.
 – Entra Bem-bem.
O rapaz, entrou, estava com uma capa preta de gorro, não dava para se enxergar nada dele, e então, ele ficou sentado à beira da cama de Zabé e tirou a capa.
Quando a moça olhou para o rapaz, levou o maior susto, ele não era nada parecido com o amor que ela sonhava.
Cap. VI
Diante do que viu, seus cabelos ficaram arrepiados, seu corpo trêmulo, e ela nem sequer pode correr naquela hora, por causa do enorme medo, Gritar foi a sua reação. A voz não saiu. Nem isso ela pode fazer. Parecia estar pregada à cama porque de todo seu ser a única coisa que conseguia fazer naquele momento era falar num tom mais baixo.
Por isso buscando toda força restante, a moça iniciou um diálogo:
– Bem-bem pra que esses olhos tão grandes?
   É para melhor te olhar Zabé.
– E pra que esse nariz tão grande?
  É para melhor te cheirar.
 – Estas orelhas, pra que tão grandes?
  É para melhor te ouvir.
– Estes braços, pra que tão grandes?
– Respondendo a esta pergunta, aquela coisa agarrou a moça num abraço muito forte. Ela temia ser quebrada, osso por osso.
Cap. VII
A essa altura, Zabé estava tão horrorizada que tremia dos pés a cabeça.
Então rezou e pediu ajuda à sua madrinha.
Viu um clarão azulado, sobre aquela coisa horrenda, bem na hora que fazia a última pergunta.
 –Bem-bem pra que essa boca tão grande?
A coisa feia já estava com a bocarra aberta e os dentes afiados tocando na cabeça de Zabé.
  É pra te comer.
A luz aumentou e o monstro soltou Zabé, deu um urro estrondoso e saiu rapidinho da casa.
Aquela figura feia e peluda era um lobisomem. Que horror!!!
Em seguida a moça pediu a Nossa Senhora sua cachorrinha de volta. Logo se ouviu o latido de Lulu no quintal e a moça pode ficar tranqüila.
Nunca mais ela quis saber de procurar casamento com pessoa que não conhecesse ou que fosse desconhecida na cidade.
Também, depois daquela indigesta experiência ...
FIM

sábado, 30 de abril de 2011

BRANQUINHA

Encontrei uma amiga.
É uma gatinha recém nascida que ainda tem cara e olhos de bebê.
Ela mia tão forte fora de casa que dói em meu ouvido.
Não é bonita.
Mas isso não faz dela melhor ou pior.
Como eu, ela está carente, quer carinho, quer brincar, quer aconchego.
Que amiga será essa???
Talvez a melhor.
Não fala, não faz cara feia e me diz de forma velada o quanto me quer.
Mas será que eu estou apta a amá-la e lhe dar carinho?
É difícil responder.
Sei que fui competente em dar coisas boas aos meus filhos.
Acho que poderei dar tudo que se merecer a qualquer forma de vida.
Esse é o meu desafio hoje.